8.12.09


Em palhaçadas
a vida em mim escangalha,
uma palavra ácida.
Fumacinha cheirosa de panela ao fogo,
decanta em meu nariz estrelado,

(agonia de uma iminente depressão)

escorre, escorre...
desinteressante alimento.
Da alma tento o colo de vovó,
o resquício mínimo da vontade
de ficar, de ser.
Porém a noite fria de ar-condicionado,
me encolhe em suas cobertas,
entrelaça minhas pernas,
espeta com agulha fina meu olho raivoso
de vermelhidão virada, trincada.
Levanto, deito, levanto

( água - cigarros - lágrimas)

Perante a faca afiada de Cabral,
Vinicius me salva.
E com medicinais doses de felicidade com gelo,

durmo com meu cachorro...

13.10.09


Encanto,
canto no canto de lábios embriagados,
a cachaça na Augusta prevê a dança.
Despem-se verdades,
que desnudas arrepiam os seios,
ventam cheiros de rosas azuis...
do pescoço.

Descaso elegante de Afrodite,
o amor nela é pássaro

vivente em gaiola aberta,
voando, pousando, dançando.
Pés no chão e olhos na lua
flutua com o tato azul de pele suada
e alma inventada no agora.

Aprendiz de humana,
sua delicadeza divina pinta
formas, encontros, palavras.
O Diabo se rende.
Deus se ofende.
Eu apenas desejo... .





27.9.09

ele e eu





Aquele moço
que habita todo espelho que olho,
anda me irritando.
Seus movimentos óbvios e marcados
encenam o café de minha ressacada manhã.
Fugidio com seus olhos de vidro,
critica o chão que me desprende,
a minha preguiça em sobreviver.
Apolíneo, fraco, reto
consome minha minha alma,
ela grita em forma de soco.
Com a fronte retalhada, ele ri

( um plano de Tarkovsky)

em vários sorrisos.
Meu sangue escorre ignorância,
enquanto meu passado suga meu momento.
Sou isso e aquele
moço do espelho
retalhado e com a mão enfaixada,
descanso a cabeça em chamas
no colo de uma guilhotina.

Suplico por um carrasco!


23.8.09

humana demasiada humana


Brinde a gargalhadas
um sorriso de menina
emerge de bolhas.
Um provável espumante
dança desesperado entre mãos involuntárias,
fruto langoroso da altivez etílica
de uma menina que beija com os olhos.
Ela avança solista,
protagonista de seu momento
distribui tapas
na culpa, no senso.
Não senso, no sense.
Borboletas tatuam seu corpo
que esguio desliza
em danças sinceras.
O chão perde o chão.
Eu, o não.
Aconchego-me em seu cheiro
de cores verdes,
perco-me no tato.
Sou ela
carinhosamente arrancando minha máscara.
Descalça, alcança com a boca
o canto da minha
narizes se tocam,
os olhos desfocam.
- Tchau.
Ela diz e...
some.














28.7.09

mais uma relação de dois



Minuto de um cigarro.
Um alento à sobrevivência.
Deitado,
sobre azulejos azuis da cozinha
trago momentos e assopro razões.
A cabeça embaralhada
escuta a chuva, que molhada cai.
O olhar é seco,
lacrimejante de rotina.
Barulho de salto.
Alta de um provável doze anos,
ela vara o corredor,
arrastando um xale ressacado.
Emito um grunido,
(uma espécie de `` oi, tudo bem?``)
silêncio.
Brincos e colares descansam na escrivaninha.
Descalça,
adentra a cozinha de azulejos azuis.
Reclama muda de alguma coisa,
(sou eu que finjo não escutar)
enquanto absorve um copo d`água.
Ainda deitado, ela em pé.
Sua altivez é cega.
Vejo sua calcinha cor da pele,
ela desencrava a mesma do cu.
Emito um novo grunido,
(uma espécie de ... )
homens da caverna.
Agora é olho com olho,
(olhares secos)
o estorvo é recíproco.
Sob a angústia do não sentir,
fecho. Meus olhos.
Abismo.
Isqueiro,
minuto de um cigarro.


20.7.09


Pássaros não pensam, simplesmente voam.
Ando matutando em não matutar,
correndo de um penar, da obrigação de se conformar.
Olhando e sendo levado pela elegância passiva de uma árvore.
Uma menina que obedece ao vento,
e cresce sempre ao encontro do Sol.
Angustiada, presenteia nossa loucura de peito cansado.
Flores coloridas.
É, não tentando mas deixando ser.
Mocinha de olhar esverdiado,
é a única que se despe no momento de maior frio
e no calor nos abriga em sombras.
Palco de fanfarras infantis,
abraça cada criança que teima em se elevar,
seja por uma suculenta maçã
ou pelo inocente prazer em subir
e travar uma boa conversa com o silêncio.
Seu colo, oferece a casais que pelados namoram...
e cravam com canivetes seu amor inventado.
O sangue é branco.
Nossa altivez ignorante de seres racionais
atropela o carinho de sua troca sem exigência.
Hoje, matutando em não matutar,
dei as mãos à uma árvore, e fizemos amor.
Preenchido daquela exaustão feliz,
acendi um cigarro e soprando a fumaça para cima...
percebi pássaros que não pensam e simplesmente voam.
Eles faziam seu ninho no seio de minha menina.

8.7.09


Medo,
num pisar azulado de seus olhos.
Ando relutante de meu encantamento bruto,
do momento que explode.
Reflexo de sol em areia matinal,
percebo em seu corpo
a infinita comunhão de grãos.
Um beco feliz,
acompanha a sombra de seu sorriso,
em seu dizer solar.
De forma inútil tento partes:
o contorno minguante de seio nu,
o suor amigo,
a janela e o contraluz,
a carícia levitante de mãos que acompanham a alma.
Enfim, medo.
Medo em meu estripado sentimento,
já que partes são apenas paixões angustiantes.
Ela, mocinha inteira
é de tal beleza,
que não deixa possibilidades
para admirar partes isoladas.
Eu, cão, sentado na rua.
Ela no meio-fio.


1.6.09

bixin


Fina, esguia, caminha.
Sorriso de amarelo inconformismo.
A fragilidade vem em olhos fitos,
numa inocência ambiciosa.
Menina-moça-mulher
respeita o medo de sentir,
a ardência da paixão.
Ela senta, olha, entende
a ideia de perder,
a vontade de ver
o lugar vazio, seu precioso amigo.
Parado, tento suas imperfeições perfeitas
abraço o beijo que não vem.
Seu corpo flor venta,
sacode o pólen a semear meu peito inerte.
Com o tato lacrimejante de uma alma ácida,
e uma rebelião infantil de volúpia nascente
dança descalça e sem chão.
Mão a espera da minha,
não a espera do sim.
Caminha, fina, esguia
sobre meu corpo, sob a Lua
cheia e nua.

28.5.09



Quando saio a sonhar
sempre a encontro.
Olho seus olhos,
passeio em sua boca,
minto a seu encanto,
estupro sua beleza.
Lambendo o Aquiles de seu calcanhar,
elevo sua fraqueza
tornando-a mais forte.
E docemente alma,
ela quebra o contorno.

aniversário


Datas, dias...
Hoje é o dia do meu aniversário
Parabéns!!
Parabéns??
Batem palmas as pessoas
Legitimando meu sincero egoísmo
Quando, quanto mais??
Deita na cama comigo
Meu covarde espelho..

26.5.09




A mão boba toca o peito arrepiado.
Ela não mais dorme, apesar de fingir.
Molha,
ao sentir a tremulidade do tato.
O corpo meio displicente se ajeita
pés despertam antes dos olhos,
e se enlaçam, sola-peito, peito-sola
encontram-se, mundos distintos.
Ela brinca com o cabelo
forma sutil de revelar a nuca.
Uma inevitável língua precede
uma mordida de gato carregando a cria.
Agora não mais o sono fingido,
mas o prazer desperto.
Ela segura com macia rigidez
o membro já rígido.
Momento em que qualquer homem
pode mensurar o infinito,
já que este não passa daquele momento.
Entrego-me,
incontrolavelmente carne, sou alma
possuída, encantada
quando seus lábios umidecidos tocam meu pênis.
Minhas mãos dotadas de ternura
acariciam seus cabelos,
prendem seus cabelos.
Seu rosto é revelado,
e ensaia um sorriso malicioso.
Frente a uma poderosa deusa cavalgando sobre mim,
percebo a inércia
a criatividade de parado ficar,
de nada ser.
Nossos gemidos acompanham movimentos...
Na iminência do gozo, o silêncio sepulcral.
Enfim, a morte chega.



ressaca

É estranho esse dia em que acordo. É verdade, pássaros ainda cantam, sementes descem para subir, o resquício olfativo da dama – da – noite, o orvalho que ainda resiste ao sol, formigas brincam de seres humanos carregando sua vida nas costas, o instante na eterna tentativa de aniquilar o momento... enfim, mais uma manhã nascendo.
Minha solidão vorazmente me come, tenho algo em mim que não sei, ou simplesmente não tenho aquilo que sei. Perdido em elucubrações abismais, o frio me abraça, a cama parece correntes em volta de um corpo sem força, o vazio alaga meu peito inerte, a falta é presente, ou apenas um presente para quem sente demais. A cabeça não pesa, a preguiça não reina, o estômago não fora embrulhado e o enjôo não perturba: ela saiu e não voltou, foi ter com outros, maquiavélica usa a fragilidade alheia e domina, se instala, entra sem convite ou licença.
É certo seu inestimável valor, minha declarada paixão, amor companheiro, sutil e sem palavras. Sometimes minha , minha, minha... aparece ainda à noite como uma viúva – negra pronta a me beliscar, enrolar-me em sua teia e me despir até a morte. Mas hoje, relutante pronto a afirmar sua ausência, finjo que não percebo a dor do vazio.
O barulho frio do ar-condicionado que insiste.

21.5.09




Não quero a alegria das cores
Acinzentando minha solidão.
Quero sim,
O não de um esquizofrênico
O espasmo de um epilético
O fantasma do amputado.
Vem solidão,
Lambe-me com ternura
Ame-me com loucura.
Que a força de seu laço me carregue para o buraco
Escuro, temeroso, sem fundo
Sem som, sem vela, sem livro.
Meu tesão é te escutar
Aprender o silêncio
Para simplesmente falar.






Jogaram-me neste mundo.
Sem nenhum aviso.
Não me alertaram da calamidade da vida fingida,
da pequena busca da felicidade.
Queria amar a primeira pessoa... do plural,
a coletividade na unidade do ser.
Fui jogado de forma cruel,
já vim ensangüentado...
talvez um aviso.
Sinto esse mesmo sangue
hoje,
lacrimejando feridas incompreendidas
pela mesma maioria que busca a pequena felicidade.
Atirado a homens sedentos
Por sonhos prontos, imutáveis, um fast-food onírico.
O muito é pouco,
O pouco é tudo
Por que não me avisaram?
Fui jogado, e largado viverei...

elucubrando....

Começa o começo
Termina o fim
O meio, por ser recheio
Alheio à interseção alheia
É nada mais
Que minha poderosa vontade...

Opa !?


Apenas sou o que não entendo, da mesma forma que tentaram lapidar-me a ser o que eles entendem...
Uma ficção mal feita de mim mesmo, um pseudo-pedaço de vida inacabado que espera descrente a única verdade fática: a morte...
Uma realidade ordinária a todos, sendo que o mesmos preferem não perceber a eternidade na medida da ignorância ...
Plasticamente infinitos, legitimados pelo olhar de nosso fabuloso Deus...
Este o monstro castrador que não nos deixa saborear a magia do inocente momento, como este, onde escrevo....