28.5.09



Quando saio a sonhar
sempre a encontro.
Olho seus olhos,
passeio em sua boca,
minto a seu encanto,
estupro sua beleza.
Lambendo o Aquiles de seu calcanhar,
elevo sua fraqueza
tornando-a mais forte.
E docemente alma,
ela quebra o contorno.

aniversário


Datas, dias...
Hoje é o dia do meu aniversário
Parabéns!!
Parabéns??
Batem palmas as pessoas
Legitimando meu sincero egoísmo
Quando, quanto mais??
Deita na cama comigo
Meu covarde espelho..

26.5.09




A mão boba toca o peito arrepiado.
Ela não mais dorme, apesar de fingir.
Molha,
ao sentir a tremulidade do tato.
O corpo meio displicente se ajeita
pés despertam antes dos olhos,
e se enlaçam, sola-peito, peito-sola
encontram-se, mundos distintos.
Ela brinca com o cabelo
forma sutil de revelar a nuca.
Uma inevitável língua precede
uma mordida de gato carregando a cria.
Agora não mais o sono fingido,
mas o prazer desperto.
Ela segura com macia rigidez
o membro já rígido.
Momento em que qualquer homem
pode mensurar o infinito,
já que este não passa daquele momento.
Entrego-me,
incontrolavelmente carne, sou alma
possuída, encantada
quando seus lábios umidecidos tocam meu pênis.
Minhas mãos dotadas de ternura
acariciam seus cabelos,
prendem seus cabelos.
Seu rosto é revelado,
e ensaia um sorriso malicioso.
Frente a uma poderosa deusa cavalgando sobre mim,
percebo a inércia
a criatividade de parado ficar,
de nada ser.
Nossos gemidos acompanham movimentos...
Na iminência do gozo, o silêncio sepulcral.
Enfim, a morte chega.



ressaca

É estranho esse dia em que acordo. É verdade, pássaros ainda cantam, sementes descem para subir, o resquício olfativo da dama – da – noite, o orvalho que ainda resiste ao sol, formigas brincam de seres humanos carregando sua vida nas costas, o instante na eterna tentativa de aniquilar o momento... enfim, mais uma manhã nascendo.
Minha solidão vorazmente me come, tenho algo em mim que não sei, ou simplesmente não tenho aquilo que sei. Perdido em elucubrações abismais, o frio me abraça, a cama parece correntes em volta de um corpo sem força, o vazio alaga meu peito inerte, a falta é presente, ou apenas um presente para quem sente demais. A cabeça não pesa, a preguiça não reina, o estômago não fora embrulhado e o enjôo não perturba: ela saiu e não voltou, foi ter com outros, maquiavélica usa a fragilidade alheia e domina, se instala, entra sem convite ou licença.
É certo seu inestimável valor, minha declarada paixão, amor companheiro, sutil e sem palavras. Sometimes minha , minha, minha... aparece ainda à noite como uma viúva – negra pronta a me beliscar, enrolar-me em sua teia e me despir até a morte. Mas hoje, relutante pronto a afirmar sua ausência, finjo que não percebo a dor do vazio.
O barulho frio do ar-condicionado que insiste.

21.5.09




Não quero a alegria das cores
Acinzentando minha solidão.
Quero sim,
O não de um esquizofrênico
O espasmo de um epilético
O fantasma do amputado.
Vem solidão,
Lambe-me com ternura
Ame-me com loucura.
Que a força de seu laço me carregue para o buraco
Escuro, temeroso, sem fundo
Sem som, sem vela, sem livro.
Meu tesão é te escutar
Aprender o silêncio
Para simplesmente falar.






Jogaram-me neste mundo.
Sem nenhum aviso.
Não me alertaram da calamidade da vida fingida,
da pequena busca da felicidade.
Queria amar a primeira pessoa... do plural,
a coletividade na unidade do ser.
Fui jogado de forma cruel,
já vim ensangüentado...
talvez um aviso.
Sinto esse mesmo sangue
hoje,
lacrimejando feridas incompreendidas
pela mesma maioria que busca a pequena felicidade.
Atirado a homens sedentos
Por sonhos prontos, imutáveis, um fast-food onírico.
O muito é pouco,
O pouco é tudo
Por que não me avisaram?
Fui jogado, e largado viverei...

elucubrando....

Começa o começo
Termina o fim
O meio, por ser recheio
Alheio à interseção alheia
É nada mais
Que minha poderosa vontade...

Opa !?


Apenas sou o que não entendo, da mesma forma que tentaram lapidar-me a ser o que eles entendem...
Uma ficção mal feita de mim mesmo, um pseudo-pedaço de vida inacabado que espera descrente a única verdade fática: a morte...
Uma realidade ordinária a todos, sendo que o mesmos preferem não perceber a eternidade na medida da ignorância ...
Plasticamente infinitos, legitimados pelo olhar de nosso fabuloso Deus...
Este o monstro castrador que não nos deixa saborear a magia do inocente momento, como este, onde escrevo....