26.5.09

ressaca

É estranho esse dia em que acordo. É verdade, pássaros ainda cantam, sementes descem para subir, o resquício olfativo da dama – da – noite, o orvalho que ainda resiste ao sol, formigas brincam de seres humanos carregando sua vida nas costas, o instante na eterna tentativa de aniquilar o momento... enfim, mais uma manhã nascendo.
Minha solidão vorazmente me come, tenho algo em mim que não sei, ou simplesmente não tenho aquilo que sei. Perdido em elucubrações abismais, o frio me abraça, a cama parece correntes em volta de um corpo sem força, o vazio alaga meu peito inerte, a falta é presente, ou apenas um presente para quem sente demais. A cabeça não pesa, a preguiça não reina, o estômago não fora embrulhado e o enjôo não perturba: ela saiu e não voltou, foi ter com outros, maquiavélica usa a fragilidade alheia e domina, se instala, entra sem convite ou licença.
É certo seu inestimável valor, minha declarada paixão, amor companheiro, sutil e sem palavras. Sometimes minha , minha, minha... aparece ainda à noite como uma viúva – negra pronta a me beliscar, enrolar-me em sua teia e me despir até a morte. Mas hoje, relutante pronto a afirmar sua ausência, finjo que não percebo a dor do vazio.
O barulho frio do ar-condicionado que insiste.

Um comentário:

Priscylla de Cassia disse...

te ler desperta uma vontade de ler mais e mais e mais...