19.10.10

Tchau




Com a trouxa a descansar no ombro
Ele,
menino-pequeno-homem,
vara a porta ENORME

deixando o passado a contra-luz do novo.
E de novo parte rumo a seu olhar
sentimento vazio e caneta em punho,

rabisca saudades daqueles momentos que não foram.









30.8.10

segunda-feira



Acordo. Mais um dia de possibilidades feias e bonitas. O difícil é me inventar a cada passo que proponho vida àquele cara que ratifica com olhos incrédulos minha ausência de imaginação. Tento um livro - algum Kerouac - , escalo com a decência de um alpinista uma árvore galhuda porém sem folhas ou frutos. Ao atingir o topo da mesma, exerço o silêncio necessário a sua altivez. Estou isolado, escondido do mundo, que de maneira acéfala movimenta seus braços de polvo em todos os sentidos, completamente sem sentido. Sentindo alguma coisa, puxo minha caneta e rabisco meu braço pálido de veias azuis, desvendando sem sucesso a loucura sob meus pés. Realmente o Polvo de braços aleatórios é um um bicho complexo e monstruoso, que nem deus (sempre minúsculo) dotado de toda sua credibilidade cega - pastor e suas ovelhas - conseguiu derrotar. Mas graças a deus, deus está morto! Então continuo minha peleja de entender, criar um significado distante do Polvo para meu momento. A caneta insiste em rabiscar agora meu peito, aonde reparo um piercing esquecido, e tergiverso sobre a felicidade intensa que teria se possuísse um concorrido clitóris! Pois é... me satisfaço com a desculpa da qualidade sobre a quantidade.
Minha amiga se vai, a caneta cai em queda livre, mas sem antes esbarrar em um galho e deixar seu sangue preto. Abandonado, perdido de mãos vazias, subo mais um pouco. Agora literalmente no topo, percebo o Polvo cada vez mais insano, os filmes de zumbis não são trash, mas sim documentários sociais de verossimilhança assustadora.
Finalmente resolvo descer, não para me misturar, o motivo mais nobre é a cervejinha que deixara no congelador. Tenho que evitar sua petrificação, a liquidez é volúvel se adaptando a todos os lugares propostos, uma crítica implícita a nossa "feliz" sociedade de formas, mas sem nenhum conteúdo. Realmente salvar-lhe-ei, meu ato heróico!
Em meu primeiro passo de descida, me deparo olhos nos olhos com um pássaro sem asas. Engraçado, logo chamo o bichano de Pedro, acho que uma tentativa de criar um espelho distorcido. Pedro olha Pedro. Ele lacrimeja, eu choro. Pedro sem asas se precipita em alguns passos e cai, sem esbarrar em nenhum galho. Uma linda queda sem medo ou tristeza. Covarde, Pedro desce a árvore com cautela, com olhos fixos em Pedro estatelado em meio ao Polvo.
O bichano em respirações calmas escuta um cantarolar intermitente de alguma canção que invento, uma provável canção de ninar. Ele dorme para não acordar. Finalmente entendo tudo, estou feliz. Resgato minha cervejinha no congelador e bebo a alegria de me inventar.
Mais um dia cheio de possibilidades...

16.7.10

Ahhhhh...


Quando amores desconversam sob piadas efêmeras e baratas, sinto um pesar de véu inocente cobrindo sentimentos verdes.
Maduro sem porquê, entender tento alfinetadas raivosas de alma jovem costurando um sempre improvável momento daqueles que somos piratas em busca da paixão perdida.
Nevegando na desorientação de uma bússula feliz, faço um filho, uma árvore, um livro... e abraço o desespero de ser aquilo que não tenho a mínima noção.
Minha pretensiosa personalidade se enfraquece a cada passo, e um grito sem palavras é o melhor texto , minha definição livre, a margem florida quando um rio revolto insiste em me sugar.
Sou um suicida altruísta na sobrevivência diária do trabalho alienado, do amor-fast-food, da vaca-hamburguer,da paixão-novela, do teatro-preguiça, do filme-pipoca, da arte-moderna.
Sinceramente mente, já que o sincero é meramente uma ode a tempos onde o sangue ainda reinava em nossos corações com entrada USB.
Por isso um tesão puro! Sádico, sujo, escatológico, porém puro. Orgasmos são fugas divinas. Somos Deuses quando a alma se mostra encantada com o agora!
E assim somos crianças! E sob a sombra de uma árvore, rimos de piadas efêmeras e baratas.

14.4.10





Choro na promessa minha de um amor seu,
flores decadentes de uma beleza roubada.
É outono e como tal,
amarelo de desgosto sinto seu descaso
no brilho de um sorriso,
e no fogo de sua cachaça
minha ressaca te condena
à morte em meu peito-carrasco.
És posse e escrava de meu medo
bobo e febril,
e quando pisoteias sem peso
meu corpo nu e satisfeito
e levantas vôo,
ventam cheiros doces e coloridos.
Finalmente percebo
que o amor não deve pedir
ou exigir,
apenas ser forte em si.
Deitado e risonho,
te vejo voar
não como uma dádiva,
mas sim
como uma conquista.

15.3.10




Mudos,
peixinhos dourados bóiam.
Uma cômoda taciturna
descansa o aquário redondo
de desenho animado.
Insisto em cutucar
a fragilidade translúcida que
agora a morte habita.
Dedilhando vidro,
caminho hirto.
Feliz, porém descrente
acredito em uma flor que
germina orquídea
no aquário redondo de.
Desenho, animado em novas cores,
sorrio, contemplo, aceito
pétalas caindo, a vida indo.
Minha passiviade flor-humana-bicho,
entrega-me em mãos ao tempo-relógio
enquanto
sua fiel menina-da-capa-preta
é uma involuntária amante
de meus momentos seus
em horas cada vez mais vagas.